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Um dia depois de o secretário estadual de Saúde do Rio de Janeiro, Edmar Santos, admitir que, com o número crescente de casos de Covid-19, não haverá respiradores suficientes para todos os pacientes em estado grave, o Estado já estuda critérios para escolher quais doentes terão direito a uma vaga em UTI. De acordo com o protocolo técnico que está em análise, e que vai tirar o peso da “escolha de Sofia” dos ombros dos médicos, serão analisadas as condições de seis órgãos e atribuídas notas ao seu funcionamento, de 0 (boa) a 24 (péssima). Quanto menor a nota, mais chances o doente terá de conseguir um leito. Nesta quinta-feira, mais de mil pacientes com casos suspeitos ou confirmados do novo coronavírus aguardavam uma vaga em UTI ou enfermaria no estado. Desse total, 361 estavam em estado grave.
O primeiro item analisado será o funcionamento de seis órgãos, como pulmões, rins e coração. Os médicos vão atribuir uma nota ao paciente de acordo com a existência, ou não, de doenças preexistentes. Quem tiver algum problema que pode ser fatal, independentemente da Covid-19, em até um ano, ganhará 4 pontos e ficará atrás na fila de quem não tiver mal algum (0 ponto) ou de quem tenha uma comorbidade que permita sobrevida maior do que um ano (2 pontos).
O documento também prevê critérios de desempate, caso haja pontuações idênticas. O primeiro é se o paciente está em ventilação mecânica, já ligado a um respirador . O segundo é a idade do doente. Os mais jovens, com até 60 anos, ganharão uma vaga antes dos que têm entre 61 e 80 anos. Os acima dos 80 ficarão por último na disputa por leito. De acordo com a proposta, profissionais que atuem diretamente no combate ao coronavírus terão prioridade, caso precisem de um leito de CTI, e passarão à frente de todos. Por último, o lugar será decidido pela ordem de solicitação da vaga.
O documento, que já foi assinado por Renata Carnevale de Miranda, subsecretária estadual de Regulação e Unidades Próprias, e aguarda apenas o aval do secretário de Saúde, Edmar Santos, para ser publicado no Diário Oficial, foi desenvolvido pelos integrantes da secretaria em conjunto com outras entidades, como o Conselho Regional de Medicina do Rio e a Academia Nacional de Cuidados Paliativos, diz que a escolha terá que ser feita porque haverá “uma inevitável sobrecarga dos equipamentos de saúde quando alcançado o período de ápice de infecção, havendo a imediata necessidade de se promover soluções que evitem o colapso da rede estadual”.
Segundo o texto, o grupo de trabalho levou em consideração os “Princípios de Triagem em Situações de Catástrofes” da Associação de Medicina Intensiva Brasileira, a resolução do Conselho Federal de Medicina que estabelece os critérios de admissão e alta em unidades de terapia intensiva, além de um protocolo publicado no “Journal of the American Medical Association”.
Médico sugere união de redes pública e privada
Para o ex-chefe de cardiologia do Hospital dos Servidores Luis Maurino Abreu, que trabalha há mais de 35 anos em UTIs, o protocolo pode deixar muitos doentes desassistidos. Ele defende que é melhor criar mais leitos de UTI do que escolher quem tem chances de sobreviver ou não.
“Com o escore, sempre teremos pacientes com potencial de recuperação que não serão contemplados. Se a situação se agravar, só terão acesso à UTI pacientes dentro uma pontuação mais favorável. A melhor alternativa é buscar mais leitos de UTI, o que pode ser alcançado, como foi feito na Espanha, com unificação da fila nas instituições públicas e privadas”, diz Abreu, afirmando ainda que a decisão de escolher quem poderá usar ou não um respirador marcará a vida de todos os médicos que estão na linha de frente do combate ao novo coronavírus: “Estamos mandando todos para a guerra, até os jovens que não estão tão preparados para enfrentar uma pandemia como essa”.
Nesta quinta-feira, a Assembleia Legislativa (Alerj) aprovou um projeto de lei que altera as regras do Fundo Especial da Alerj. Na prática, a medida permitirá que a Alerj repasse R$ 5 milhões para a UFRJ fabricar mil respiradores, em trinta dias, para auxiliar pacientes acometidos pelo novo coronavírus. O texto será encaminhado para sanção ou veto do governador Wilson Witzel, que, a partir do recebimento, nesta segunda-feira, terá até 15 dias úteis para tomar a decisão.
Fonte: Jornal Extra